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Asma Brônquica

ATIVIDADE FÍSICA NA ASMA

"A atividade física relacionada à saúde é qualquer forma de movimento corporal planejado e estruturado, realizada regularmente, com o objetivo de melhorar ou manter a aptidão física e mental, prevenindo doenças, promovendo o bem-estar e contribuindo para uma vida saudável."

Pacientes que se engajam em treinamento físico regular conseguem melhor controle da doença, apresentam potencial para diminuir a dependência aos medicamentos de controle e melhoram os parâmetros funcionais respiratórios.1-4

Existe uma correlação direta entre a prática de exercícios físicos e o bem-estar geral, de forma que em pessoas anteriormente sedentárias, a atividade física resultará em benefícios adicionais para a saúde e a qualidade de vida.5 Parece haver uma relação linear graduada entre o volume de atividade física e o estado de saúde, de modo que as pessoas mais fisicamente ativas corram menor risco.6 O envolvimento de forma constante às atividades físicas também está associado à promoção do bem-estar psicológico, manifestando-se p.ex. através da redução do estresse, da ansiedade e da depressão.7-9

Esse conceito não é diferente na asma. Existe uma conexão direta entre a prática de atividade física e o estado de saúde, de forma que um acréscimo na atividade física ou na condição física resultará em benefícios adicionais para a saúde. Cordova-Rivera et al. constataram que o maior sedentarismo na asma estava relacionado ao seu pior controle, com deterioração na capacidade de exercício e na função pulmonar, com maior demanda de atenção médica.2

A prática regular de exercícios físicos tem demonstrado maior controle dos sintomas da asma, da qualidade de vida, da capacidade de exercício, da hiper-responsividade brônquica (HRB), com atenuação da broncoconstrição induzida pelo exercício (BIE) e consequente queda do VEF1 em indivíduos asmáticos. Além disso, sua influência na HRB ajuda a explicar, em parte, a melhora observada na qualidade de vida e na capacidade de exercício. Portanto, a incorporação da atividade física como um tratamento adjuvante à medicação é recomendado.10

França-Pinto et al. observaram através de treinamento aeróbico redução na HRB e nas citocinas pró-inflamatórias séricas – interleucina 6 (IL-6) e da monocyte chemoattractant protein-1 (MCP-1), com melhora dos índices de qualidadede de vida (AQLQ) e diminuição das exacerbações da asma (p<0,05).11 Uma revisão Cochrane prévia de 21 ensaios clínicos randomizados, com 772 participantes, já confirmara esses benefícios e também demonstrou que o treinamento físico pode ser bem tolerado entre pessoas com asma, que experimentaram melhora no consumo máximode oxigênio (VO2).12 Uma revisão mais recente, incluindo cerca de 11 estudos com 543 participantes através de análise sistemática e metanálise destaca os efeitos positivos do treinamento físico aeróbico no tratamento da asma e na função pulmonar, embora estes estudos, não apresentem impacto nos marcadores de inflamação local das vias aéreas. Assim, os resultados sugerem que o controle dos sintomas pode ser alcançado por meio do treinamento físico, sem necessariamente reduzir a inflamação. No entanto, a heterogeneidade entre estudos, as limitações metodológicas e a imprecisão das diferenças médias padronizadas (SMDs) tornam a interpretação das evidências ainda um desafio.13

Recomenda-se a implementação de um programa de exercícios físicos para indivíduos asmáticos, visando aprimorar seu estado físico, coordenação neuromuscular e autoconfiança. Como resultado, espera-se alcançar melhora tanto clínica quanto funcional do paciente. Já foram propostos vários protocolos de exercícios para pacientes com asma. A recomendação padrão que deve fazer parte do manejo da asma é de 20 a 30 minutos de exercício a 60 a 85% da frequência cardíaca máxima quatro ou cinco vezes por semana.4 A maioria dos protocolos de treinamento físico para asmáticos inclui exercícios aeróbios tais como caminhada, corrida, ciclismo e natação combinados ou não com exercícios resistidos e alongamentos,14,15 sendo importante salientar que a melhor modalidade de exercício é aquela na qual o paciente melhor se adapte.

A orientação de atividades físicas para asmáticos que também apresentam obesidade deve ser ajustada para atender aos objetivos específicos dessa população, levando em conta as limitações impostas por esta condição. Recomenda-se que o treinamento físico siga diretrizes especiais, incluindo o aumento da duração e frequência dos exercícios, com redução na intensidade inicial e na progressão. Esses protocolos devem integrar programas de perda de peso em conjunto com atividades físicas mais eficazes para esse objetivo.15

Referências

01.Hansen NB, Henriksen M, Dall CH, Vest S, Larsen L, Suppli Ulrik C, Backer V. Physical activity, physical capacity and sedentary behavior among asthma patients. Eur Clin Respir J 2022; 9:2101599.

02.Cordova-Rivera L, Gibson PG, Gardiner PA, McDonald VM. A Systematic Review of Associations of Physical Activity and Sedentary Time with Asthma Outcomes. J Allergy Clin Immunol Pract. 2018 Nov-Dec;6(6):1968-1981.e2.

03.Hansen ESH, Pitzner-Fabricius A, Toennesen LL, et al. Effect of aerobic exercise training on asthma in adults: a systematic review and meta-analysis. Eur Respir J. [Internet]. 2020 Jul 1;56(1):2000146.

04.Disabella V, Sherman C. Exercise for asthma patients: little risk, big rewards. Phys Sportsmed. 1998 Jun;26(6):75-84.

05.Myers J, Prakash M, Froelicher V, Do D, Partington S, Atwood JE. Exercise capacity and mortality among men referred for exercise testing. N Engl J Med 2002; 346:793-801.

06.Warburton DE, Nicol CW, Bredin SS. Health benefits of physical activity: the evidence. CMAJ. 2006 Mar 14;174(6):801-9.

07.Warburton DE, Gledhill N, Quinney A. Musculoskeletal fitness and health. Can J Appl Physiol 2001; 26:217-37.

08.Warburton DE, Gledhill N, Quinney A. The effects of changes in musculoskeletal fitness on health. Can J Appl Physiol 2001; 26:161-216.

09.Dunn AL, Trivedi MH, O'Neal HA. Physical activity dose–response effects on outcomes of depression and anxiety. [discussion 609-10]. Med Sci Sports Exerc 2001; 33:S587-97.

10.Eichenberger PA, Diener SN, Kofmehl R, Spengler CM. Effects of exercise training on airway hyperreactivity in asthma: a systematic review and meta-analysis. Sports Med 2013; 43:1157-70.

11.França-Pinto A, Mendes FA, de Carvalho-Pinto RM, Agondi RC, Cukier A, Stelmach R, Saraiva-Romanholo BM, Kalil J, Martins MA, Giavina-Bianchi P, Carvalho CR. Aerobic training decreases bronchial hyperresponsiveness and systemic inflammation in patients with moderate or severe asthma: a randomised controlled trial. Thorax 2015; 70:732-9.

12.Carson KV, Chandratilleke MG, Picot J, Brinn MP, Esterman AJ, Smith BJ. Physical training for asthma. Cochrane Database Syst Rev 2013 Sep 30;(9):CD001116.

13.Hansen ESH, Pitzner-Fabricius A, Toennesen LL, Rasmusen HK, Hostrup M, Hellsten Y, Backer V, Henriksen M. Effect of aerobic exercise training on asthma in adults: a systematic review and meta-analysis. Eur Respir J 2020; 56:2000146.

14.Avallone KM, McLeish AC. Asthma and aerobic exercise: a review of the empirical literature. J Asthma 2013; 50:109-16.

15.Freitas PD, Silva RA, Carvalho CRF. Efeitos do exercício físico no controle clínico da asma. Rev Med (São Paulo) 2015; 94:246-55.